Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Antes de qualquer coisa hoje é aniversário do meu Bento Orsini, irmão do meu João Orsini. Meus filhos, meu sangue, são meu DNA em movimento. Em um País que não dá oportunidades igualitárias é muito difícil não ser pessimista com os jovens. O povo é enganado por pastores religiosos, por empresários SA e principalmente por nós mesmos- essa classe média pobre de coração. O pobre está fadado a ser empurrado para baixo do poço ou escoltado para fora da sociedade.

Na verdade ele já foi, mas ainda não sabe. Essa estória que o sujeito humilde e subserviente à dízimos vai antes para o céu é uma babaquice. O céu é para todos – não tem dono nem chave celestial. Fico pensando nesses jovens de IFood pendurados sobre bicicletas ganhando uma miséria que não suprem sequer suas necessidades calóricas diárias.

Ontem vi o abisonhado do Bolsonaro pulando com uma camisa da Philco e relógio da marca Cássio. Ele tem um excelente assessor de imprensa, além disso me parece, segundo definição de Melo Reis, uma especie de canalha. As pessoas chamam lhe de Mito, mas imbecilmente não sabem tal significado. Seguidores de um “mito” como esse é terrível.

Não vou mais falar de política, prometo. Isso cansa… parece não ter solução. Vamos para a parte boa da crônica?! Decidimos adquirir um Golden, chamado por João de Thor. Cláudia, uma paciente do consultório conseguiu Thor na última ninhada. Ela é mãe de uma filhota muito querida. Inicialmente achei tal presente solicitado pelos meus pimpolhos algo, no mínimo, pesado.

Às vezes acho que coloco muitas vírgulas nas minhas frases. Decidi escolher minha forma de escrever – ela não fere ninguém. Cansei de seguir um padrão há tempos, principalmente por não precisar mais escrever para concursos. Criei um modo.

O grande amigo Thor irá ocupar muito espaço em nossos corações e obviamente nas áreas do apartamento. Serás bem-vindo amigão, principalmente neste ano que deveria ter sido defumado. Um ano esquecido do ponto de vista da tragédia anunciada, do mal-estar da sociedade, da raiva, da insensatez e, obviamente, da distorção dos pensamentos.
Como pai de vocês, João e Bento, gostaria de deixar bem estrelado, que essa tal distância, que tentam aumentar (nós sabemos) entre nós, reforça ainda mais o que chamo de amor. Tenho perguntado para meu coração como poderia ser um sujeito melhor – não com vocês, mas com a humanidade.

Aos pais que são separados posso dar-lhes uma dica? Não sejam perversos uns com os outros, pois os filhos não podem sofrer. Não merecem. Uma palavra associada a gestos de amor demarca e demonstra claramente o nosso papel de “pais coruja”. Desejo, vontade e prazer são apetrechos que guardamos aqui – ninguém nos tira.

Algumas vezes sou pego por sonhos vividos durante a Madrugada – na presença da escuridão e da solidão. O fato de não poder sentir a consonância de seus corpos diariamente, do calor depurado, do cheiro dos artelhos e dos roncos é uma sensação tipo em espada, que parece fincar em meu peito. Não tenho outras formas para amar vocês, métodos de construção de uma nova espécie de paixão e ferramentas jurídicas para dizer para ambos, que gostaria de ficar sempre os ladeando todos os dias da minha vida. Mas, essa tal de guarda compartilhada é um nojo. Ela não leva em consideração nossos corações e disponibilidade. Ela quer definir por si só, como se fosse dona de nossos filhos. Essas representações são um pequeno convite, para a gente olhar para a multiplicidade de formas que o amor pode assumir. Farei uma incansável jornada desse pai que nada pelo oceano, movido pela capacidade de enfrentar qualquer desafio para abraçar os filhos. Nesse oceano, infelizmente aparecerem mais tubarões, do que peixes-palhaço. Tubarões de onde menos esperamos – tipo aquele de Guarujá.

Lembro de uma passagem do filme o Rei Leão. Nessa o pai comenta com o filho. “Simba, ser valente não quer dizer, se meter em apuros. Mas você nunca tem medo de nada”. Eu tive hoje e sempre terei esse medo, João e Bento. Não por vocês, nem por mim, mas pelas arestas, pelas pessoas que nos rodeiam, que se escondem nos detalhes de algo que chamamos de redes meurais. Essas são como um saco surpresa – umas boas, outras bem catastróficas e perversas.

Gostaria de deixar uma informação para famílias que buscam, de forma anárquica e esquisita, afastar pais de filhos. Mais de 5 milhões de brasileiros não têm o nome do pai na certidão de nascimento e mais de 11 milhões de famílias são formadas por mães solo. “Mamães, deixem os papais, aqueles que realmente querem ser presentes, assumirem o seu real papel”.

Apenas no primeiro semestre de 2020, mais de 80 mil crianças foram registradas sem o nome do pai, de acordo com a Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional).
Em 2012, em decisão inédita, o STJ reconheceu a possibilidade de indenização moral em decorrência deste tipo de abandono paterno. Segue uma pergunta para todos os leitores. Por que não, essa mesma decisão quando pais são castrados? Não seria algo difícil; só precisa ser redesenhado sob outros olhares. O pai terrestre não é Deus e nem pode ser. Mesmo assim, devemos ama ló profundamente – Deus é nosso alicerce.

Que façamos tempos de obediência, de carinho, de respeito, de gratidão e, indubitavelmente, não esmoreceremos diante de situações da vida, quando o criador permite que pais e filhos compartilhem juntos e que todos nós possamos crescer em amor e comunhão. Queria dedicar essa crônica a todas as crianças abandonadas por país, largadas pelas ruas e esquecidas pela nossa sociedade. Não teria condições de abraçá-las e colocá-las todas aqui com João e Bento – mas oro e faço do meu jeito o que está ao meu alcance.

Maurício Sant’Anna, obrigado pelo gesto de comprar meu café da manhã hoje. Te chamei de negão – é crime de racismo? Não deve ser, pois escrevi “te amo, negão”. Isso é o que vale nessa vida.