• Por Alexandre Brasil

O acidente entre um navio à deriva e a Ponte Rio-Niterói, na segunda-feira (14), ligou o alerta para possíveis desastres ambientais na Baía de Guanabara devido ao grande número de embarcações abandonadas. E esse “cemitério de navios” pode afetar (e já afeta) a cidade de Niterói com o aumento do risco de vazamento de óleo e de outras substâncias químicas e metais pesados na região, além do prejuízo econômico com embarcações naufragadas.

Segundo o último levantamento feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea-RJ), em 2016, para auxiliar o Caderno de Encargos dos Jogos Olímpicos do Rio, a Baía de Guanabara conta com algo em torno de 150 a 200 peças de lixo náutico. Dessas, 50 foram georreferenciadas e documentadas só no Canal de São Lourenço e na Ilha da Conceição, ambos em Niterói.

Já no início de 2022, um outro levantamento foi feito, agora pelo Movimento Baía Viva – que vem alertando as autoridades federais e estaduais sobre a presença desses navios há anos, e apontou que pelo menos 78 embarcações estão abandonadas pelos 412 km² da Baía. Alguns barcos e navios estão afundados, o que também prejudica a navegabilidade por alguns trechos.

“No Canal de São Lourenço, mais de uma centena de barcos, chapas e outras embarcações de diferentes portes abandonados tem provocado crescentes impactos e prejuízos à pesca e o impedimento da navegação naquele trecho da Baía de Guanabara”, disse um trecho da publicação feita pela Ong.

Para Sérgio Ricardo Verde Potiguara, ecologista e fundador do Movimento Baía Viva, o ponto mais crítico fica próximo à Ilha da Conceição.

“A situação causada pelo abandono impede a operação plena do Terminal Pesqueiro de Niterói, por exemplo. Fora o aumento das taxas de assoreamento, os riscos à navegação, os impactos nas atividades de pesca e os danos para a fauna e a flora”, comentou.

Há nove anos, o Inea até tentou fazer um leilão de algumas embarcações presentes no Canal, mas o ecologista apontou várias contradições no processo.

“Foi uma enganação, já que somente foi retirado o ‘filé mignon’. A operação se limitou a retirar as embarcações que estavam na superfície, gerando lucros financeiros imediatos aos responsáveis pela iniciativa, mas nenhuma melhoria da qualidade e da saúde ambiental da Baía de Guanabara”, acusou Sérgio Ricardo, que acredita que o problema pode ser resolvido com uma ação conjunta das autoridades envolvidas (Ministério Público, Capitania dos Portos, Ibama e Inea) e com exemplos vistos em outros países e até no Brasil: “a solução passa pelo afundamento de embarcações para a criação de arrecifes artificiais ou a destinação do material metálico para a reciclagem para uso da indústria nacional”, finalizou.