Nutróloga tira as principais dúvidas sobre a doença crônica que atinge, especialmente, pernas e coxas: como identificar, que especialista procurar e quando fazer cirurgia

O lipedema atinge de 10% a 11% das mulheres no mundo e 12% das brasileiras, mas só recentemente vem sendo mais compreendido e ganhando novas possibilidades de tratamento. Por se tratar de uma doença crônica e progressiva, o lipedema não tem cura, porém os sintomas podem ser controlados com cuidados adequados, evitando o avanço da inflamação.

É o que explica a médica nutróloga Sabrina Guerreiro, coordenadora clínica de Terapia Nutricional e nutróloga do Hospital Badim/Rede D’Or, no Rio de Janeiro, e especialista em processos de emagrecimento.

“O lipedema é uma doença que passou a ser mais estudada há pouco tempo. Já foi confundida com obesidade e, hoje, se sabe que é uma condição crônica, uma inflamação que atinge, principalmente, as mulheres. É uma doença possível de tratar, com ótimos resultados, que melhoram a saúde física e a autoestima da paciente”, afirma a médica.

A seguir, a especialista responde às 10 principais dúvidas sobre o lipedema:

1. O que é lipedema?

O lipedema é uma doença crônica caracterizada por um acúmulo de gordura, mais comumente nas coxas e nas pernas, podendo ocorrer também nos braços. É simétrica, ou seja, acomete sempre os dois membros, e geralmente poupa pés, mãos e tronco. Essa gordura costuma parecer desproporcional ao restante do corpo. A paciente sente dor e sensibilidade ao toque no local, além de apresentar manchas roxas (equimoses). Apesar de ser uma gordura localizada, ela é resistente ao emagrecimento. É comum que pacientes relatem já terem feito diversas dietas sem sucesso na redução desse volume.

2. Por que o lipedema acontece?

Ainda não se sabe exatamente, mas acredita-se que haja um componente genético, além da influência de hormônios, fatores ambientais e estilo de vida. Períodos de variação hormonal, como puberdade, gravidez e menopausa, são identificados como possíveis gatilhos.

3. Quais são as principais características e sintomas do lipedema?

Gordura localizada que parece desproporcional ao corpo — podendo afetar apenas culotes, panturrilhas ou toda a perna — mas que não atinge mãos, pés ou tronco. A dor e a sensibilidade ao toque são sintomas marcantes, além do surgimento fácil de manchas roxas. Para pacientes com lipedema, uma simples massagem relaxante pode ser dolorosa. Também podem surgir sensação de peso e pequenos nódulos sob a pele, muitas vezes descritos como “ervilhas congeladas”.

4. Que profissional procurar para avaliar o caso?

Os médicos que tratam lipedema podem ser de diversas especialidades, como nutrólogos e angiologistas. Como o tratamento é multidisciplinar, diferentes profissionais podem — e devem — acompanhar os pacientes, de forma integrada.

5. Quais exames confirmam o diagnóstico?

O diagnóstico é feito a partir da história clínica e do exame físico, já que ainda não existe um exame específico para detectar o lipedema. No entanto, exames como ultrassonografia ajudam a descartar outras condições associadas.

6. Lipedema tem cura?

Infelizmente, não. Atualmente, o lipedema é considerado uma doença crônica e progressiva. Por isso, o tratamento é essencial para aliviar sintomas, melhorar a qualidade de vida e impedir o avanço da doença.

7. Como é o tratamento para lipedema e quanto tempo dura?

O tratamento é multidisciplinar e pode envolver nutrólogo, angiologista, cirurgião plástico, educador físico, massoterapeuta, entre outros. Deve incluir alimentação anti-inflamatória e antioxidante, melhora da qualidade do sono e da saúde intestinal, prática de atividades físicas de baixo impacto, drenagem linfática e, em alguns casos, uso de roupas compressivas. Cada paciente precisa de um plano terapêutico individualizado. Como a doença é crônica, o tratamento é contínuo e deve ser mantido para conter sua progressão.

8. Canetas injetáveis como Ozempic e Mounjaro podem ser usadas no tratamento?

A tirzepatida, medicação recém-chegada ao Brasil, combina duas substâncias semelhantes a hormônios intestinais e mostrou ação na queima de gordura. Como o lipedema está relacionado a alterações no tecido adiposo, essa medicação pode ser usada como coadjuvante, ou seja, junto a outras estratégias, como alimentação adequada, atividade física e cuidados intestinais.

9. É preciso fazer cirurgia?

A cirurgia, geralmente na forma de lipoaspiração, é indicada para casos graves ou resistentes após pelo menos um ano de tratamento conservador — que envolve reeducação alimentar, mudanças de estilo de vida e terapias manuais como drenagem. Vale lembrar que a cirurgia não substitui os cuidados clínicos, que continuam sendo a base do tratamento.

10. Como o lipedema afeta a saúde física e mental?

Fisicamente, o lipedema compromete a mobilidade, causa dor e sensação de peso nas pernas, o que pode dificultar atividades simples do dia a dia. Por ser um estado inflamatório crônico, também aumenta o risco de doenças como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares. No aspecto emocional, a doença pode afetar profundamente a autoestima e a autoimagem da paciente, contribuindo para quadros de ansiedade e depressão.


Sobre a Dra. Sabrina Guerreiro

A médica nutróloga Sabrina Guerreiro é especialista na condução de processos de emagrecimento. Formada pela Universidade Federal Fluminense, é pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia. Atualmente, coordena a equipe multiprofissional de Terapia Nutricional e atua como nutróloga no Hospital Badim, da Rede D’Or, no Rio de Janeiro.