Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Nos últimos três meses empoleirou-se em minha varanda um pássaro, provavelmente um pardal, pelas características que lhe são peculiares. Sinto-me um privilegiado pela confiança que passo para esse pequeno animal. De plumagem marrom claro, olhos diminutos e brilhantes, parece representar alguém.

Sempre fui um grande admirador da natureza e percebo sua renovação com o afastamento dos seres humanos. Uma vez fui questionado se os pardais, por serem tão comuns, faziam ninhos. Sem considerar-me um conhecedor da natureza respondi que sim e, obviamente, ninhos onde habitam muito mais amor que nas casas de alguns seres humanos. As fêmeas têm penas de cores opacas, que se misturam com o ambiente e permitem que incubem os ovos nos ninhos feitos nos galhos das árvores sem serem vistas.

Essa é uma estratégia para os predadores naturais que, diferente de nossa espécie, buscam alimentação ao invés de ganância. Interrogo-me por que esses animais não possuem medo dos seres humanos? Creio que por isso esses vêm reduzindo de número nos últimos anos.

Estudando com minúcia tais aves, tive a certeza que estou sendo visitado por uma fêmea. Elas são de tamanho menor, apresentam a coloração cinza nas partes inferiores e no tórax, e um tom pardo nas asas, nas rectrizes e no píleo. Além disso, contam com uma faixa superciliar mais clara. Se fosse possível estabelecer algum diálogo lhe daria um conselho sobre o nosso povo. Essa história que somos um país solidário, desprovido de preconceitos e acolhedor não é tão real.  As mudanças climáticas, o uso de pesticidas, o eletromagnetismo, as emissões de dióxido de carbono, a ausência de espaços para se abrigar e para construir os seus ninhos, a competição com novas espécies invasoras e o aumento de predadores são fatores que ao passar dos anos matam milhões de pardais e seus respectivos ninhos.

Também acho curioso esses simpáticos animais serem considerados pelos seres humanos como “sinalizadores” biológicos da saúde das cidades. Quanto menos pardais, mais doentes são as cidades. Creio que possamos inverter essa frase.  O aumento de ninhos e pardais estão diretamente relacionados com a compaixão entre as pessoas e, consequentemente, com a natureza.

Por que essa fêmea olha dentro dos meus olhos? Creio que não deve saber ao certo o que esperar de minhas atitudes. Queria finalizar essa crônica que aqueles que ensinam sobre a humanidade nem sempre são humanos.

Dedico essa crônica para os meus filhos João e Bento Orsini e nosso terceiro filho, Sonic. Aproveito e convido esse tal pardal a nos brindar com sua beleza todos os dias; aqui existe um ninho, não uma gaiola.