Luiza Sassi, diretora geral do Instituto GayLussac. Ela é pedagoga, psicóloga e mestre e especialista em Psicologia Clínica. Possui MBA em Gestão de Pessoas e Gestão Pública Municipal, e Pós-Graduação em Alunos com Necessidades Especiais e TEA – Transtornos de Espectro Autista

O bem-estar é uma condição imprescindível para a aprendizagem e para a vida. A contemporaneidade tem imposto um ritmo e modelo de vida bem distintos do que se tinha há dez ou vinte anos atrás e isso impacta na vida das crianças e adolescentes – seja na rotina alimentar, nas relações interpessoais atravessadas pelas redes sociais e também na corrida do tempo, que parece sempre estar menor. E como impacta isso na vida das crianças e adolescentes?

Nas relações interpessoais a vida tem sofrido com o uso excessivo das redes sociais. Todos sabemos que o advento das telecomunicações estreitou as fronteiras do mundo e proporcionou um saber mundial de tudo o que acontece quase que on-line e on-time. Isso fez com que o uso de aparelhos móveis fosse uma condição de vida, trazendo para o cotidiano a intermediação desses aparelhos. Se por um lado isso trouxe muitos aspectos positivos, por outro vem se tornando um sério problema a ser enfrentado pelos pais e pela a escola.

Por isso, ter conhecimento de qual é o tempo de tela que deve ser ofertado às crianças e adolescentes é um indicador do bem-estar que eles experimentarão na sua vida. Delimitar o tempo de tela é necessário por alguns motivos: a tela nos captura ao ponto tal de nós nos perdermos no que estamos fazendo. Isso impacta naquilo que as crianças estão deixando de fazer – se movimentar, correr, fazer esportes, atividades culturais e se relacionar diretamente com pessoas.

Estar de frente aos colegas proporciona uma experiência diversa das telas porque necessita de negociações e diálogos. Definitivamente os diálogos e relações estabelecidas pelo WhatsApp não se revelam semelhantes pessoalmente. As crianças e adolescentes falam, ou melhor, escrevem, aquilo que muitas vezes não diriam pessoalmente. É claro que não são todas as relações que se tornam ruins e tóxicas pela via das redes e on-line, entretanto cria um novo modelo relacional que não pode ser exclusivo, mas precisa ser acompanhado para gerar bem-estar.

Muitas idealizações são projetadas nas redes sociais, o que provoca um mal-estar nas crianças e adolescentes por acreditarem que as vidas são capturadas na realidade pelo clique das fotografias e pelas falas tantas vezes criadas como narrativas verdadeiras – e não são. Portanto para gerar bem-estar os pais devem estabelecer um período diário para uso da tela que deve ser dividido entre uso para estudo e uso para entretenimento.

Um ponto importante é que crianças até 12 anos não devem fazer uso das redes sociais e a tela deve ser o tempo mínimo possível diariamente de acordo com a faixa etária. A Sociedade Brasileira de Pediatria estabelece o tempo de tela para crianças de 2 a 5 anos de, no máximo, uma hora; de 6 a 10, no máximo, 2 horas; e de 11 a 18, no máximo, 3 horas de tela. Isso é uma referência que não precisa ser seguida à risca, mas deve-se ter bom senso e analisar qual é o uso que está sendo feito. Se for apenas para rolar tela pelos momentos das redes (Instagram e Facebook, entre outras) o tempo deve ser bem restrito, mas o uso pra pesquisas, games e estudos, por exemplo, tem finalidades mais construtivas e geram mais bem-estar.