Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Nessas crônicas não costumo falar sobre minha personalidade pois, diga-se de passagem, não me considero fácil. Um homem absolutamente sem nada de especial, contrário ao apreço por matéria; mas com dois filhos saudáveis e felizes. Já ia me esquecendo, sou um sujeito de caráter – isso tenho que pontuar.

Perder o tal caráter é basicamente uma sentença de morte obscura. Creio que o termo é de difícil definição: – uma qualidade peculiar (sei lá); uma especificidade? Não, não é simplesmente isso. O sujeito a quem falta ou perde o caráter, geralmente atribui aos outros suas responsabilidades por atos/situações que deveriam assumir, principalmente no que se refere às regras e leis que infringem.

Voltando a mim, depois de tudo que passei durante os meus 44 anos, sobraram-me amigos que não cabem nas falanges de uma mão. Se sou diferente, melhor, pior, mais inteligente? Obviamente que não, mas àqueles voltados loucamente à aquisição de capital, malandros, aproveitadores, em esquemas de desvio de dinheiro, preconceito, mesquinharia, mentiras deletérias, reféns da fama ou de bens materiais não conseguem entrar em sintonia com minha circuitaria cerebral.

Ontem briguei com meu filho mais velho – acho que apertei demais o parafuso da “bronca”. Redimi-me logo em seguida.

“Filho – acho que peguei pesado com você – me desculpa?”

Ele acenou positivo. Eu nunca bati nos meus filhos, mas,  às vezes, aperto um pouco mais (nada para traumatiza-los ou deixa-los com medo).

A pior coisa são filhos aterrorizados por pais (eles escondem problemas, se mutilam, acham-se vigiados e, obviamente, omitem questões importantes que podem gerar danos permanentes). E por que briguei? Porque ele queria dar uma de esperto para cima do irmão – a criaturinha que mais o ama.

Qual o objetivo em entrelaçar as palavras caráter, amor, filhos, simplicidade? O encéfalo dos nossos filhos que, como um trapezista, equaliza emoções e toma decisões, continua em processo de ebulição neural até vinte e poucos anos. Nos pequeninos, o lado direito é da emoção e o esquerdo da lógica. Levem seus filhos para as nuvens do pensar, sentir, escutar – a saberem transformar algo ruim em aprendizado. Estimule as atividades físicas, a expressar e nomear seus sentimentos e, nunca se esqueça, de prepará-los para uma decisão ou reação quando as coisas não sairem como desejam/planejam.

Vamos “examinar” nossos filhos do ponto de vista de saúde física e emocional ao acordarmos e dormimos. Mostremos lições de empatia e amor ao próximo. A deformação do caráter humano afeta nossa relação com o próximo e com todo o ambiente em que estamos inseridos. E olha como o que não falta é gente com essa tal “doença” do caráter.

Em resumo, juntando tudo e mais um pouco – pais com caráter terão, provavelmente, mais êxito na construção dessas habilidades junto a seus filhos. Boa sorte.