Flavia Abranches é jornalista. Instagram: @flavi_abranches

No dia 2 de abril foi celebrado  o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, período marcado pela cor Azul. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca 70 milhões de pessoas possuem o transtorno em todo o mundo. No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo 2019,  a ONU enfatizou a necessidade de tornar as tecnologias assistivas acessíveis para todos e reforçou que a data internacional é uma ocasião para se manifestar contra a discriminação, celebrar a diversidade e fortalecer o compromisso de todos com a inclusão e participação plenas das pessoas com autismo. Meu papo essa semana é com a terapeuta ocupacional, Isabel Scisinio, que trabalha com terapia de integração sensorial em Niterói e explica como a técnica beneficia crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

Flavia: Como funciona a integração das informações sensoriais recebidas por crianças com TEA e de que maneira a terapia ocupacional pode intervir positivamente?

Isabel: As crianças com TEA podem apresentar, em diferentes níveis, disfunções sensoriais que podem ser definidas como questões de conectividade, condução dos estímulos ou baixo registro da informação, tendo como consequência disfunções sensório-motoras ou disfunções ligadas à modulação sensorial. Ou seja, essas crianças poderão apresentar impactos a partir de questões sensoriais desde sua vida psico-afetiva, através de episódios emocionais disruptivos, alterações de humor e impulsividade, até problemas de desenvolvimentos da práxis, o que vai afetar todo o desenvolvimento de habilidades para o aprendizado de atividades de vida diária, da prática, planejamento e sequenciamento de ações. Sendo assim, o terapeuta ocupacional utiliza a integração sensorial para regulação, experimentação e desenvolvimento de habilidades com alto grau de requisição sensório-motora, transformando esse aprendizado em atribuições mínimas e fundadoras de todas as atividades que virão posteriormente. Além disso, o terapeuta é responsável pela análise de atividade, bem como avaliação das capacidades individuais, sendo capaz de desenhar um plano de trabalho condizente com as necessidades, potencialidades ou dificuldades que cada um apresenta.

Flavia: Uma das grandes preocupações dos pais de crianças com TEA é proporcionar qualidade de vida e autonomia aos seus filhos. Fale um pouco sobre a “dieta sensorial” que se equilibra com a ajuda da terapia ocupacional.

Isabel: O que podemos afirmar é que para proporcionar qualidade de vida para indivíduos com TEA é quando pais e profissionais experientes conseguem fazer um boa leitura das estratégias de regulação sensorial que funcione para aquela criança de maneira específica, ou seja, cada criança vai demonstrar seu interesse, seu engajamento. E se ela conseguir se organizar, quer dizer que aquele estímulo fez um efeito benéfico. É importante salientar que não está ligado à quantidade de estímulos ou terapias e sim à qualidade.

Flavia: Os distúrbios do processamento sensorial podem existir também na ausência de um diagnóstico de TEA?

Isabel: Sim, os Transtornos de Processamento Sensoriais (TPS) estão presentes e associados a diversas patologias como: distúrbios de aprendizagem, TDAH, dispraxia dos movimentos e também podem estar associados a quadros neurológicos ou genéticos.

Flavia: De acordo com dados da OMS, estima-se que 1 a cada 160 crianças em todo o mundo tenha TEA. No entanto, existe uma diferença nos diagnósticos por gênero, uma vez que estatísticas publicadas evidenciam mais casos de autismo entre meninos, em comparação às meninas. Há uma consciência sobre a questão? Como orientar os pais?

Isabel: Acredito que ainda aja muita especulação e muitos estudos distintos e recentes sobre a origem do autismo. Atualmente, ele pode ser considerado multifatorial, entretanto o que é importante para a conscientização é o rastreamento precoce a partir da observação cotidiana, sendo assim um bom alerta para os pais é participarem da infância dos seus filhos, ficarem atentos aos sinais e procurar ajuda com especialistas sérios. A prevalência atualmente é em meninos, mas o número de meninas vem crescendo exponencialmente.

Flavia: Como as escolas têm recebido as crianças com TEA, especialmente em um mundo que vem abrindo caminhos para a inclusão e que oferece ferramentas positivas como a terapia ocupacional?

Isabel: Podemos afirmar que o Brasil ainda tem muito a caminhar no ponto de vista dos profissionais de saúde como parceiros dentro da escola, entretanto, não temos mais escolas especiais o que faz necessariamente com que essas crianças estejam incluídas em escolas regulares. O que vem se abrindo é a possibilidade de diálogo e da conversa para trocas e tentativas de estratégias sensoriais, bem como avaliações de necessidades de uso de dispositivos e adaptações para facilitar a permanência, engajamento e participação dessas crianças, mas continua como um desafio.

Isabel Scisinio é terapeuta ocupacional com certificação internacional em Integração Sensorial pela Universidade do Sul da Califórnia. É sócia-proprietária do Espaço Integrando, que fica em Niterói.

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