Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Os seres humanos que parecem se comprazer no sofrimento, que tornam-se patologicamente felizes com a infelicidade dos outros, jamais poderão orgulhar-se de suas vidas – creio eu. Comento sempre que a felicidade está dentro de nós, marcada no DNA, independente de fatos ou circunstâncias externas. E aos que faltam dinheiro, saúde, desamor e frustrações por perdas familiares por questões várias? Temos obrigação, no cerne da palavra, de torná-los felizes em nossa presença e perseverantes em ajudá-los. Devemos buscar segundos dentro dos minutos do dia para aprimorarmos nossa capacidade de doação.

Não é uma questão de força de vontade como, por exemplo, juntar dinheiro para comprar um novo carro. Essa atitude é moral, educacional, cívica e ordinariamente oriunda de nosso sistema límbico e frontal. Uma passagem de Clarice Lispector diz “Durma com boa orientação: cabeça ao Norte. Se não for possível, cabeça ao Leste”.

Seres Humanos nobres não são escravos do capricho, das últimas palavras do mundo da moda tampouco de um espectro que não existe dentro deles. O raciocínio, a intelectualidade, o zelo com o outro e uma observação do entorno que os circunda são os marcadores epigenéticos do bem. Isso também ocorre nas relações. Nessa estória quem leva vantagem são os dotados de substância cinzenta, pois ninguém é capaz de roubar idéias, conteúdos e nobreza. Porquanto sejamos gratos por qualquer coisa que a vida nos proporciona de bom.

Essa semana fui literalmente atacado por um gato noturno. Até agora não sei o que tornou o danado felino tão agressivo comigo. Creio que tenha sido a máscara, mas não descarto sua infelicidade com o ser humano – já deve ter sido agredido inúmeras vezes. Pois bem, encontrei a felicidade e a gratidão quando meus filhos nasceram, quando encarei a vida e, de sobremaneira, o comportamento humano. Não gostei que Deus tenha levado minha mãe, mas de alguma forma era uma função que ela tinha que exercer lá de cima… sem começo, sem fim.

A vida é assim… queria dedicar essa crônica para o Pedro – um grande flamenguista que está para nascer em breve. Pedrão, seu tio (eu) beijará muito suas bochechas. Tenha certeza que seu avô é uma das pessoas mais bacanas que a vida me emprestou. Quando me perguntam se eu o conheço como médico afirmo que sim… mas não somente como um dos melhores, isso é um detalhe estapafúrdio que o barbudo não leva em sua bagagem emocional. Conheci seu avô no Maracanã – hoje a casa do Flamengo. Na época em que a arquibancada era cinza e o povão chegava de todas as partes do Rio de Janeiro para assistir noventa minutos de alegria, independente do resultado. Esse mesmo povo que hoje foi cerceado de mais um prazer na vida.

Amo-te, Pedrão. Creio que ao reconhecermos a bondade no outro despertamos-a em nós mesmos. João e Bento – minha vida para vocês. Para a minha pequena índia oferto um espaço no meu coração, mas sem bagunça ou falta de compaixão.