Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Encaro a paternidade como o maior presente que Deus fornece aos seres-humanos. Meu foco de vida, desde que João e Bento nasceram, mudou completamente. Acordo e adormeço todos os dias com pensamentos fieis e prazerosos vivenciados por nós. Não penso como eles serão sem o meu calor, mas tenho ciência que irão crescer- por isso espero mais filhos.

Como todo pai coruja, temo a adolescência, mas a encararei com unhas e dentes. Durante o coronavírus, termo que eles já utilizam nas aulas virtuais, nunca ficamos tão próximos. João é mais carinhoso. Bento é diferente de tudo. Ambos reúnem apetrechos que me tornam um pai muito feliz- o maior do mundo. Acordamos juntinhos, dormimos abraçados, contamos estórias desse tal de “Roblox” e, de sobremaneira, nos ajudamos.

Penso que o maior desafio de ser pai é educar. Por falar em educação, esse tal de ensino à distância não tem dado muito certo comigo. Certamente a mãe (minha ex-esposa) falará que não sei educar e sou culpado. “Meu Deus, ela sempre fala isso. É uma espécie de mantra”.

Creio que o segredo da resiliência esteja resumido em valioso lugar – o coração. Esse deve bater devagar e mansinho, como aquelas cantigas que os faziam dormir. Reflito que para um pai, o ruim deve ser colecionar vergonhas morais e éticas. O primeiro passo para enfrentarmos as mazelas e catástrofes que atualmente nos afetam de todos os lados é ter medo. Medo? Sim. O medo nos permite traçar estratégias, enquanto o pânico nos paralisa.

“Um homem pode sentir medo?”. Óbvio, pois quem não sente essa reação mais cedo ou mais tarde sucumbe e não volta ao jogo da vida. Depois que meus filhos nasceram posso dizer-lhes que tornei-me um pouco ativista. Provavelmente já estava escrito no meu DNA. Não aceito qualquer forma de preconceito contra: a cor da pele, a homossexualidade, a violência e maus-tratos às crianças e, principalmente, a aniquilação precoce de vidas por parte de manobras de nossos governantes. O Brasil é uma terra linda, mas com uma gentalha bem perversa. Não todos, mas o suficiente para causar estragos irreparáveis.

O meu destino certamente é ser pai, tenho certeza disso. Ser pai é um remédio bom para a alma. É o que me preenche e indispensável para sobrevivência. É a minha forma de lutar. Por isso quero mais…Ser pai é uma escalada vertical.

Considero-me um homem que não me adaptei à cultura de privilégios, embora seja um privilegiado. Essa estória que o isolamento social permitirá um melhor autoconhecimento é uma extrema ignorância. Nós já conhecemos nosso “modus operandi”. Quem tem caráter continuará com tais características – o inverso é também sinônimo de certeza. Creio que a relação mais correta não é conosco, mas com os outros.

Dedico essa crônica para todos os pais que ainda possuem tempo de educar seus filhos. O que importa é educar com bons exemplos. Questionamentos sobre estarmos certos ou errados em nossa individualidade, pouco importa. O que importa é o caráter.