Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Há tempos existe uma escassez de alunos, que se preocupam com o que reside fora dos livros de escola. Não sou um exímio escritor como a Bety Orsini, nem gostaria de ser; afinal de contas, ela era minha referência para tudo. Alguns alunos questionam, que minhas aulas de Neurologia são dotadas de fatos históricos, de imagens de papiros egípcios e de um linguajar que foge dos consensos e normas médicas. A mesma problemática emerge quando falo em fazer ciência, mesmo que seja da forma deles.

Às vezes me acho um sujeito chato; fico aborrecido comigo mesmo, por não conseguir ajudar. Não é uma questão de saber mais ou menos que meus pequenos alunos, mas o fato de não falarmos a mesma linguagem. Ontem liguei para meu professor de Pneumologia da UFRJ, Dr. Gilvan Muzi, explicando, que existe um momento que faz-se necessário parar ou dar um tempo em reflexões acerca dessa tal de modernidade acadêmica. “Marco, é preciso tirar partido dessa situação”, afirmou Gilvan.

Fico desconfortável em travestir-me com roupas do tipo “couraças do exibicionismo”, com escudos simbólicos, capacetes de salvação e espadas de impotência. Agora, aos 40 anos, palavras como ética, cidadania, solidariedade, parceria e grupo são soletradas como se fossem a mais pura verdade, por pessoas que “fingem” a tal política correta das coisas.

Essas pessoas estão dentro das Universidades; elas formam outras pessoas, que formam outras pessoas e assim caminha o império da mentira nas Universidades.

Já pensei na seguinte situação. “Já que não podemos expulsar esses bárbaros forjadores de mentiras poderiam pregar uma espécie de diretriz para os recém-chegados”.

Nas Universidades têm muitos bancos de emprego, muita sabedoria interrogada, muita arrogância e, indubitavelmente, pouca vontade quando se trata da formação de alunos com propósitos coletivos – em prol da população pobre, da atenção primária em saúde e honestidade. É uma verdade cruel, admito.

O que esses jovens não imaginam é o fato de nós, mais vividos, conhecermos o início e, consequentemente o final dessas histórias. Por isso, hoje passei a negociar com essa garotada – vou cedendo daqui e eles de lá – tudo dentro do que acredito ser correto na Educação.

Esse é um dos desafios da minha vida, além de estar ao lado de João e Bento e quem sabe ter mais dois filhos. Sinceramente, a minha crença em ser um educador, que tenha capacidade de converter e ajudar um aluno que não possui interesse nele mesmo acabou. Acabou mesmo – não tenho mais salvação. Penso que sou um caso perdido.

Atualmente minha grande preocupação está relacionada aos cursos de Mestrado e Doutorado – me faz mal qualquer comentário sobre esse assunto.  O silêncio nesse caso é uma espécie de oração para não enlouquecer.

As Universidades possuem exímios pesquisadores de qualidade técnica e científica nas mais diversas áreas que, felizmente, respiram transparência, coletividade e simplicidade. Quando passo em frente à um Hospital Universitário que tenho imenso apreço, sei que ali é uma espécie de muro alto como garantia de muitas coisas, algumas boas outras ruins. É justamente nessas frestas que “gafanhotos” da educação entraram e estabeleceram suas raízes do mal. O ser – humano é inadministrável e a rebeldia associada à pobre formação dos alunos, os tornam presas fáceis em acatar ordens e participar de sistemas dotados de interferências morais. Enfim, isso é o que tenho para escrever hoje, talvez uma angústia.

Gostaria de dedicar essa crônica Professor Alfeu França, um nobre e excelente Médico. Lembro que sempre escutei com os olhos, as palavras de alguns de meus Professores, pois tinham uma espécie de ovos de Colombo para me ofertarem.