Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

A verdade é que eu nunca gostei de falar…[pausa] parece que me mitificavam. Embora assine três revistas cientificas sobre Medicina Geral cheguei a conclusão que estou fora de Congressos e Reuniões Cientificas. Não tenho nada de sofisticação e\ou novidade para uma platéia que já sabe tudo. As poucas vezes que falo são pontuais e para uma causa que perpassa minha vontade de ficar em silêncio – estão bem raras. Já recebi o retorno de dois ex-alunos que disseram aprender comigo com o silêncio.

Eu me lembro e torno vivido o prazer que tenho em escrever, escolhendo letras e criando meus vocabulários pobres. Tenho um livro que fiz para meus filhos, escrito com lápis, que deve já possuir a robustez de um caule de bonsai. Nas minhas últimas aulas em congressos cheguei a apagar 15 vezes meus slides para saber o que é que eu estava querendo dizer para eles. Porque eu queria? Qual meu ganho pessoal com isso? Quanto do meu tempo estava sendo derramado num ambiente que definitivamente não gosto. Vou me entendendo com essas questões, mas estudando no silêncio da madrugada.

Já depositei uns embrulhos na terra de um terreno atrás de um Centro Médico; isso foi durante um congresso. Sentei-me no banco, como um atalho psíquico e ali perdurei. Aquele silêncio parecia me acalmar; ali adormeci. Dei minha palestra que foi uma porcaria e peguei o carro para Niterói. Esse foi meu último evento. Hoje, como editor associado de revistas científicas, tento tornar os textos dos meus alunos mais chamativos. Também gosto de criticar o método dos trabalhos que a cada dia que se passa estão mais rasos e anêmicos. O português desses meninos precisa de uma transfusão…Não brigo não [sou romântico]. Explico que o método é o coração de um trabalho e, quando descompassado está, o problema passa de pontual para sistêmico.

Na semana passada fui tentar argumentar algo que não me lembro em teleconferência de um aluno proponente de titulo de mestrado. Seu orientador, muito exibicionista e fazendo exercícios sobre uma espécie de bicicleta parecia um imperador. Sabe aqueles sentimentos que nós guardamos dentro de algum lugar do cérebro? Enfim. Abriguei em meu interior e não tive paciência nem de falar que o trabalho sobre teleconferência e COVI-19 parecia um corpo inerte, sem vida, morto pelo método, devastado pela arrogância de um personagem. O pior de tudo isso é o crescimento de mestres…tipo mestres dos magos…com super-poderes.

As Universidades são culpadas por isso; nós também por não reprovarmos. Hoje entendo por que figuras de intelecto tão além do normal sucumbiram. Cito sem medo os professores Carlos Henrique Melo Reis, Eduardo Morch de Mello, Marcos RG de Freitas e Marco Antônio Araujo Leite sucumbiram. Esse último, um sobrevivente de guerra, ainda tenta umas braçadas. Em breve acho que irá se sentar comigo e nossos apetrechos para possíveis escalações de um novo time do Flamengo, na composição de músicas, na discussão de obras de arte e na antiga discussão de que estamos fazendo de nossas vidas. Conheci o Araújo quando adolescente, nas arquibancadas do Maracanã cinza. São nossos melhores momentos quando juntos.

À beira lago e diante de João e Bento percebo que viver é fácil. Basta tê-los ao lado, junto com dois cachorros e uma namorada que compreenda que as às vezes o silêncio é uma oração. Não é indiferença sem desamor, mas um estado de espírito. Permitam-me a saída. João chega do meu lado e pergunta. “Já sei papai, você é igual a vovó Bety. Se mete aí nesse lugar e fica. Está escrevendo uma crônica né pai?”. Sim João – respondo eu. “Seu pai está escrevendo sobre o melhor modo de admirar a lua e, consequentemente, você e seu irmão Bento”. Naquela época não me ensinavam a conhecer as pessoas atrás das máscaras. Acho que isso levou minha mãe à morte – a falta de esperança – não tive tempo de perguntar quando visualizei seu rosto cansado. Agora só tenho feito colaborações para revistas cientificas de fora e algumas daqui. Também colaboração para jornais e revistas. Não tenho idéia de nenhum método ou mesmo romance. Estou bem localizado aqui e não vou mais sair.

Gostaria de dedicar essa crônica para todos os meus amigos e alunos que publicam e me ensinam coisas novas. Gosto dos jovens e com idéias…São acelerados e sinceros. Não sobem em bicicletas como Sophias e debocham de outros. No futuro, provavelmente irão debochar, alguns deles – nesse momento certamente já terão esquecido de mim. João, Bento e meus sonhos de casar e ter novos filhos passam na frente de tudo.

Segue um chamego especial ao Marco Antônio Araújo Leite. Seria desleal e arrogante chamar esse professor de professor. Acho que você ainda é capaz de ofertar Ovos de Colombo no tocante às suas atividades acadêmicas. É realmente o substituto do Professor Marcos RG de Freitas – de uma forma e comportamento diferente, mas é. Queria dar um abraço virtual por aqui no Brodsky, Fernando Miguelote, Luis Armando Velloso, Gabriel Rodrigues de Freitas, Henry, Melinho e Rogério Marroco – componentes da neurologia e de um grupo de amigos dos amigos que me tiram risadas. Deixo também um afeto grande para Jano Alves de Souza – um médico não mais fabricável- quanto zelo mora dentro desse homem. “Brodsky? O que possui hoje lá na feira para nós?”