Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Ladeando os detalhes do ser – humano, creio que existam muitos “pobres homens ricos” espalhados por todo o mundo. Pasmem: Metade dos brasileiros vivem com cerca de 450 reais por mês – dados apresentados pelo IBGE em pesquisa que se iniciou em 2012.

A personificação e supervalorização de carros de luxo, jóias e penduricalhos pelo corpo e, no coração da sociedade, parecem uma dificuldade de encarar a ausência de conteúdo interno. Seria uma grande mentira dizer-lhes que não me incomodo com essas atitudes, pois indiretamente milhares de pessoas morrem de desnutrição, de fome e desamor. Creio que a falta de afetividade e calor humano tornem “coisas” como pessoas. O inverso é crudelíssimo, pois essas passaram a ser descartáveis. Algumas são “compradas” como escravos ou gladiadores da idade média. Cá entre nós, os idiotas que fumam charutos em iates de luxo querem provar o simbolismo do capital. Impressiona-me a frieza e ambição dessa classe por algo que certamente não preenche nossa trajetória nesse mundo.

Os meios de comunicação, a publicidade e os “formadores” de opinião tornaram muitos indivíduos “zumbis-fashions”. Não somam, não pensam, só acumulam… Qual a autobiografia deixariam para seus filhos? “Seu pai é dono de um iate, tem 30 fazendas, 70 carros de luxo, 10 milhões de reais e…” Quanto mais ostentamos maior é nossa cratera de vazio interno. Uma verdadeira derrocada, um nadir, o fundo do poço… algo que extirpa o que de mais bonito possuímos – nossa essência.

A única saída para tal é o exemplo que emerge dentro de nossas casas, de nossos pais, de nossos pares… a poesia, a arte, a cultura e, indubitavelmente, a estória do nosso Brasil também é crucial para a compreensão dessas mazelas carreadas pelo vazio humano. Podemos também citar essa tal de sinalização estética que inunda os consultórios médicos e clínicas de estética. O “ser bonito” ultrapassou a longos passos o “ser-humano”.

Posso perceber nas pessoas um letreiro com franzimento frontal quando deparam-se com uma “réplica”. A minha é “original” enquanto a dele “falsificada”. A originalidade encontra-se no DNA, porquanto, não é possível tal comparação. Devemos entender que a ideia dos imperadores egípcios, que acreditavam levar riquezas ao túmulo, está ultrapassada. Não levamos nada daqui, mas podemos deixar bons exemplos.

Dedico essa crônica aos meus filhos João e Bento. Aproveito para abençoar nosso querido Pedro, filho da Clarinha. Deixo meu beijo para tia Helinha – uma pessoa de coração enorme.