Jovem tinha um mandado de prisão preventiva em seu nome, mas família alega que ele estava em uma apresentação no momento do crime

Os familiares de Luiz Carlos da Costa Justino, de 22 anos, violoncelista e integrante da Orquestra de Cordas da Grota, detido na última quarta-feira (02) após ser abordado por policiais, no Centro de Niterói, foram recebidos na tarde desta sexta-feira (04) pelo prefeito Rodrigo Neves. Eles estavam acompanhados por representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Niterói. O jovem foi levado para uma delegacia ao ser verificado que em nome dele havia um mandado de prisão por assalto ocorrido em novembro de 2017. A vítima o teria reconhecido a partir de uma fotografia. Amigos e familiares alegam que se trata de um engano porque, no mesmo dia e horário do assalto, ele fazia uma apresentação em Niterói.

“O Luiz Carlos está há muitos anos no projeto da Orquestra da Grota e, no dia da ocorrência, em 2017, ele estava trabalhando. Além disso teria sido reconhecido por uma foto e nunca foi ouvido no caso. Estamos recebendo a família e a Comissão de Direitos Humanos da OAB para chamar atenção para o caso. Nossa convicção é pela inocência do Luiz Carlos e acreditamos que essa injustiça vai ser reparada o mais rapidamente possível, abreviando o sofrimento dele e da família”, disse o prefeito Rodrigo Neves.

A mãe de Luiz Carlos, Angélica da Costa, ressaltou ter certeza da inocência do filho.

“Estão sendo os piores dias da minha vida, nunca passei por isso. Está sendo muito difícil. Ele é inocente. Se ele tivesse feito alguma coisa, eu, como mãe ia chorar, mas eu ia me conformar porque ele tinha feito besteira. Mas ele não fez”, afirmou.

O maestro da Orquestra de Cordas da Grota, Marcio Paes Selles, lembrou que Luiz Carlos participa do projeto há 16 anos.

“Ele convive conosco desde os seis anos. Além de muito talentoso, sempre foi um ótimo rapaz. A gente fala muito desse racismo estrutural que existe no país, mas é preciso botar a mão na massa para mudar essa situação. Eu acho que a arte, a música e o esporte ajudam muito, mas a gente precisa também dos órgãos de governo apoiando essas iniciativas. Espero que tudo se resolva e, em breve, o Luiz Carlos volte ao nosso convívio”, contou.

A subsecretária do Pacto Niterói Contra a Violência, Graça Raphael, destacou a importância da Orquestra Cultural da Grota.

“Esse é um projeto já reconhecido pela sociedade, que tem encaminhado jovens para a música, para arte, com um resultado excepcional, mantendo essa criança, esse adolescente, esse jovem numa atividade cultural permanente e de fortalecimento da sua cidadania. Nós estamos aqui juntos nesse momento para fortalecer essa luta pelo direito à liberdade, direito humano desse jovem que integra a Orquestra de Cordas da Grota, que tem uma família, uma mãe, tem a sua esposa, sua filha, tem a sua vida, e que por conta de um processo que esperamos, seja esclarecido, bem rapidamente, hoje está com a sua liberdade negada. Esperamos que a justiça seja feita e ele consiga a sua liberdade”, afirmou.

O advogado Douglas Marcos, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Niterói, ressaltou que o órgão trabalha para tentar reverter a decisão judicial o mais rápido possível.

“Eu sei que a família está passando por um momento de muita dor. Infelizmente é mais um caso de racismo estrutural, mais uma medida equivocada, precipitada. Estamos juntos com a família lutando para que o Luiz esteja em liberdade o quanto antes”, disse.

O produtor da Orquestra de Cordas da Grota, José Carlos Vidal, conhecido como Katunga, também falou sobre a questão do racismo estrutural na sociedade.

“Infelizmente isso acontece o tempo todo. Mas hoje, ao menos, a gente pode falar. Será que se o Luiz não fosse negro ele estaria preso agora? Mas nós podemos falar com toda certeza que ele é inocente e vamos lutar pela liberdade dele”, garantiu.