Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Essa semana foi muito cativante, pois almocei com meu professor e médico Gilvan Muzy – aquele catedrático dos velhos tempos. Recebi uma bronca sobre uma crônica que envolvia política, mesmo contra-argumentando que sou socialista e apartidário. Relembramos os tempos da epidemia de AIDS. Gilvan contou que ao avaliar um paciente com candidíase oral parecia estar observando um céu estrelado – passagem de uma famosa música.

Certo dia, solicitei a um paciente, praticamente ficar desnudo diante de meus olhos. O exame clínico não pode ser jamais esquecido na medicina. Com o corpo crivado de lesões típicas, era um caso de sífilis secundária. Infelizmente algumas vezes “entramos” num caso como especialistas e achamos os detalhes – esses que fazem a diferença. Alguns médicos de hoje “parecem” não ligar ou fazer pouco caso de suas habilidades clínicas. Afinal de contas uma enxurrada de exames complementares são pedidos.

O médico deve ouvir o paciente, deixá-lo narrar a marcha de seu problema, orientá-lo quando o assunto mudar o rumo, realocá-lo e prosseguir. Um exame imperfeito é gerador de pobrezas no diagnóstico e tratamento inadequado. Ressalto que uma comunicação unilateral é a fórmula para o erro. Toda doença, seja ela física ou mental, possui uma história natural que, indubitavelmente é narrada pelo seu dono, o paciente. Obviamente a evolução da medicina e dos exames complementares tornou-se a cereja do bolo num diagnóstico, entretanto, devemos, pois ainda somos capazes, de prepará-lo com destreza e organização intelectual.

Em alguns casos a culpa recai sobre nós, Professores. “Os Professores ensinam mal, são deficientes, arrogantes, incapazes, narcísicos, bonzinhos…não faltam adjetivos”. Ser Médico não é estampar uma carteira para cortejar pessoas e obter ganhos secundários. Para exercer nossa profissão devemos gostar muito, em demasia, ainda mais, sempre, do que fazemos. A mediocridade não é norma – é exceção. Nossos pares devem ter o que chamo de “inquietude” mental. Uma espécie de vontade de chegar em casa e não se conformar com um diagnóstico ainda em fase de construção.

Não são poucas as vezes que ligo para os meus professores e falo: “Me ajudem por favor?”. Estudantes e Médicos Especialistas gastam muito do seu tempo em Congressos, em busca de fama e reconhecimento, participando de pesquisas de subespecialidades e se esquecem de um detalhe: do paciente. Da nobreza em ser diferente para o próximo, em fazer o melhor sem retorno, em chatear-se com os erros. Aprendi a me calar, a estudar, a criticar, a ser criticado. A principal lembrança que tenho dos meus professores é sempre deixar o meu muito obrigado pelo que fizeram por mim. Ao tempo que se dedicaram a corrigir meus erros, ao silêncio quando acertava. Acredito que cresci com nobreza, desculpem-me os leitores. Não se trata de narcisismo – creio ter crescido com vergonha na cara e disposto a parar de estudar somente nos últimos dias da minha vida.
Não podemos deixar que o humanismo médico seja perdido. Lutemos pelo compromisso, sinceridade, sangue nos olhos, perseverança e boas práticas médicas. Na profissão que escolhemos não cabe mais.

Quanto ao ministro da Educação que verbalizou: “hoje ser um professor é ter quase que uma declaração, de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”, não tenho palavras para arguição. Você é o quarto de uma série desastrosa de incoerentes e imbecis.

Gostaria de dedicar essa crônica para um médico por vocação. Já com certa idade, pasta na mão, estetoscópio ladeando seu pescoço e despido de vaidades. Segue um grande beijo para o Dr. Thales Baptista de Freitas, um excelente Pediatra e pai de um grande amigo de adolescência, Leandro Artiles.