Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Hoje recebi a ligação de uma das professoras do meu querido Jony – filhote mais velho. Não sei por onde começar essa crônica, pois me perco na semântica e destreza das teclas quando o assunto é esse guri. João desde que era um bebê diminuto, ainda com icterícia neonatal, já possuía uma luz diferente (tonalidade sem definição). Ele, indubitavelmente, não está dentro da normalidade. Não que seja uma criança melhor ou pior – o assunto perpassa essa questão. Falar de nossos filhos é sempre muito delicado, pois acabamos puxando as sardinhas para nossas experiências paternas.

Não podemos continuar indiferentes e alheios às informações que sentimos ao abraçarmos nossos filhos, pois essas novas gerações estão aí – para atropelar a inércia e a ignorância. João deixa registros e indícios de percepções e atitudes que me fazem acreditar num mundo melhor. Já reconhece e interage com empatia, solidariedade, compaixão e inteligência emocional. Sempre ao dormir esse pequeno faz cócegas na minha cabeça e, de forma sorrateira, vem embrenhando-se para as minhas axilas. Ele me aquece e me faz dormir bem. Na verdade estou sempre ladeado por vibrações e calores diferentes dos meus filhos.

Sensível e vulnerável ao mundo que o rodeia, algumas vezes acho que João se esconde dentro de si mesmo. Esse mundo de hoje literalmente, não se encaixa dentro do que meus filhos possuem. Não quero parecer arrogante, mas não desejo que se tornem os melhores, os mais fortes, os valentões, os desbravadores… quero que a vida ai fora os deixem viver.

Não quero que “tenham” ao invés de “serem”. Suplico por um local habitável por sentimentos, que precisa de compaixão, de perdão, de amor, de alegria e de compreensão. Desprezo, de sobremaneira, essa forma estapafúrdia e confusa de ensinar crianças à serem modelos para um mundo corrompido. Uma maneira estranha de tornar crianças competidoras de notas e grifes, mas pobres de sentimentos e empatia.

João prefere locais calmos desde bebê. Sempre, do seu jeito moleque, evita multidões. Creio que energias diferentes ao mesmo tempo o incomodam de alguma forma. Ele é apaixonado por animais e plantas – o Bento também. Tenho uma mania de dar-lhes muito liquido, pois a purificação é necessária nesse novo mundo. Não os quero catalisando tudo que existe por ai – tem muito lixo humano jogado na porta de nossas casas. Os visto com roupas comportáveis, pois precisam sentir-se livres e saudáveis.

Minha maneira de dialogar com João é uma espécie de limiar da estranheza, pois esse possui conhecimentos que não habitam em mim. Às vezes fico preocupado e me pergunto: “Como sabe disso – seu danado?”. João parece abrir caminho para uma nova era, obviamente, levando Bento na garupa. É uma relação vibrante, penetrante e que transmite paz entre eles.

João. Seu pai te ama muito. Não sofra com esse mundo que você, Bento e outras crianças não cabem. Dedico essa crônica para a filhota de um grande amigo e irmão Leandro Artiles, a Maria Antônia Werneck de Castro de Freitas. Seu avô é um pediatra muito querido e seu pai um exemplo de dedicação e caráter.

Brinco com meus amigos que a palavra esperança é algo que algumas vezes perdemos, mas se olharmos bem próximo ela reaparece como, por exemplo, a chave de nossos carros. A vida se assemelha à uma cachoeira curta, com trombas d’água e tortuosidades várias. Temos que fazer valer o nosso papel dentro dela; descaracterizando toda a maldade e enaltecendo a simplicidade. João, nunca é demais dizer para ti, meu grande amigo, que faças de sua vida e de seus amigos o melhor momento. Seja um menino homem, um eterno aprendiz, um jogador capaz de definir a paz e ofertar sonho para as pessoas. Toda a forma de amor vale a pena Jony.

Adianto aos leitores que em breve estaremos tornando das crônicas um livro. Que Deus lhes abençoe sempre e que não os faça esquecer que a maior arma contra o que estamos vivendo na atualidade é a formação de filhos margeados por caráter e capacidade em “destruir” esse sistema que nos ancorou como povo subserviente.

“Não há nada de tão belo como aproximarmo-nos
da Divindade e espalhar os seus raios pela raça humana”
Ludwig van Beethoven