Iniciar uma crônica com o nome de um de meus filhos pode parecer estranho, mas representa muito para mim. Um guri que possui dotes especiais e uma maneira diferente de encarar a vida. É óbvio que o meu amor é dividido de forma similar entre eles; isso não impede um texto para Tita – apelido que recebera durante as canções de ninar e arrotos entre mamadas. Eu cantei muito para Bento – canções que nem sabia. Bento é uma espécie rara de ser humano assim como João. Por vezes deixei-me fazer de rascunho, para que vocês se tornem homens sem as marcas que eu suportei. Algumas ainda tatuadas no peito – todas permitidas por mim.
Meu pequeno Bento tem uma característica muito marcante, a solidariedade. Tudo que encontra nas beiradas, absolutamente tudo, oferta de bom grado para João. Dificilmente reclama de coisas que muitos ficariam aborrecidos. Entretanto, magoa-se e fica doido quando se sente agredido – qualquer tipo dessa. Algumas vezes sentamos juntinhos e percebo que a sensibilidade habita naquele coração. Semana passada pediu-me para tirar foto da lua, pois a considerou cheia e brilhosa. Achei um gesto nobre…
As pessoas possuem uma mania meio que tola em me perguntar qual é o meu filho predileto. Qualquer filho que é gerado e criado onde há amor será único e com características peculiares. O amor que sinto pelo João e Bento é mútuo. Bento ainda necessita de algo mais direcionado e tendencioso que é sinalizado pelo meu coração. Aquele toque de pedra feito para aparar algumas arestas que são necessárias para suas particularidades internas. Tenho vontade de ter mais filhos como eles; ter filhos é bom – é uma sensação que criação – uma nova canção.
Hoje se tivesse que deixar um bilhete bem pequeninho, tipo um retalho de papel, escreveria o seguinte para ambos: “filhos, nunca deixem as cicatrizes do passado decidirem o futuro de vocês, tampouco amargurem-se pelo que já fizeram com boas intenções. Além disso, jamais deixem para trás as pessoas que participaram da formação moral de vocês – essas valem muito mais que qualquer coisa no mundo de hoje”. Todos os dias a noite vocês devem lavar bem o coração de vocês, passarem uma espécie de buchinha e, terem a certeza que foram as melhores pessoas naquele espaço de tempo. Já no próximo, ao acordarem, busquem melhorias para a sociedade, de qualquer forma. Sejam socialistas e aprendam a dividir qualquer coisa com os outros- de preferência o amor.
Para você, Bento, quero que acredite que és capaz de realizar qualquer façanha nessa vida, mesmo que pareça alta e escorregadia. Não acho que perdemos na vida filho; no mínimo aprendemos – quando ganhamos, existe sempre a partilha. Partilhar coisas nutre o nosso coração, pois vamos deixando escorrer um pouquinho de nossos apetrechos históricos nas bagagens emocionais de outras pessoas…
Seu pai ultimamente tem passado por aqueles dias que reflete sobre cada passo e ação, sem buscar encontrar respostas concretas- isso não existe. Depois de anos, permiti conhecer-me e vi como é bom olhar para dentro de nós mesmos. Escolhi ser um médico que posso, sem apetrechos, sem vaidade, sem currículo – só com zelo e conhecimento. Meu DNA sofrera alguma mutação durante a parternidade e fez-me sentir o melhor pai do mundo – mesmo que embora isso beire o impossível. Escolhi não ter medo da educação, das palavras de carinho, das pitadas de zelo e a cada vez que antes de dormir dizer o quanto amo cada um de vocês.
Bento Orsini, como o seu aniversário é no inicio do ano, gostaria de ofertar essa crônica para ti, meu pequeno menino de ouro. Você e João são os girassóis que fazem meu coração segui-los em busca de luz. Faça do seu e do meu coração a sua casa…permita apaixonar-se por ti e sempre ande de mãos dadas com Deus.
Com carinho de seu papai Marco e do seu irmão João. Sonic, Vovó e Thor também estão na torcida por seu brilho. Não é qualquer brilho filho- brilhe para as pessoas que necessitam de sua empatia, do seu amor e da sua doação. Te amo muito mais do que você imagina. Quanto ao João tudo se assemelha; afinal de contas ele é meu fechamento. Estamos juntos. Dedico essa crônica para a esposa de um grande médico, Professor Suassuna, que dividiu uma frase na noite de Natal comigo. Não a conheço, mas já afirmo, sem medo de errar, que daquele coração existe vida e ternura.
Recebi esse poema deles.
“Quase Natal…
Retornamos à manjedoura….
Três convidados, uns animaiszinhos, um pai, uma mãe, uma criança…. e , ainda assim, foi o melhor Natal da história da humanidade!
Precisamos de pouco!”
Quem fez esse versículo – tenho que contar. Parabéns, Ana Christina Melichar. Um afetuoso abraço do seu amigo virtual.