Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

A cada raiar do dia vou me permitindo ser minha própria tribo. Infelizmente, não percorro essa tal estrada do pensamento e da vida com muita leveza, pois muitos dos meus ficaram para trás. Sinto-me feliz em retornar e buscá-los nos meus mais profundos pensamentos e num canto alegre de meu coração. Nesta falta de leveza, muitas vezes, é difícil perpassar a linha da vida com candura e agir languidamente Poucos são os que conhecem algumas cicatrizes estampadas no meu coração. Maria Felinto é uma dessas pessoas que sabe os meandros do meu sentimento. Trabalha conosco há anos e, indubitavelmente, a vida nos permitiu conhecer essa grande pessoa.

Nordestina, pobre de capital e rica de amor que sempre esteve ao meu lado. As lembranças do funeral da Bety não conseguem ser apagadas. Quando todos marchavam na grama escorregadia por orvalhos de chuva – essa por ali ficou. Ganhei um abraço e um sussurro: “Pois é seu Marco, ela vai fazer falta”. Minha mãe admirava Maria – eu a amo. São quase 30 anos trocando experiências e deixando-a, literalmente, saber sobre meus “saberes”.

Aos poucos vou buscando não me afogar com tanta tragédia que vejo e vivencio. No seio da literatura e da ciência faço o meu descanso, embora acho que a segunda está vendida – não toda ela – mas boa parte. Existem muitos “mitos” decadentes que parecem sustentar esse tal de castelo de areia que é a nossa sociedade moderna. Alguns parecem sentir vil prazer na castração de sonhos alheios, com a falta de oxigênio, com a dor e sofrimento do povo. Vocês sabem exatamente do que estou falando. Outros fazem um papel de serem “domesticados” e “empáticos” muitas vezes e andam espalhados por aí. Hoje consigo olhar por cima desse muro de inverdades absolutas; acordei há tempos de uma espécie de sonho dogmático, pedantesco, doutoral.

Às vezes acho que a sociedade é uma espécie de balaio de gato. O ser humano se empilha, se articula, se “arranja”, empurra alguns e amontoa outras de acordo com suas ambições. São pessoas mal-unidas, despejadas e que se colocam na frente das outras e de certo não para ajudar; contrárias as forças da arte divina. Me deixa descontente a falta de zelo, tantas vozes despreocupadas e “inocentes”. Como nos parecem verdadeiras todas as mentiras da atualidade. Como essas estão contaminadas – só querem mais, por querer.

Por particularidades de nossa sociedade falta oxigênio, sobram mortes por asfixia e não reagimos. Não reagimos por alguns fatores, principalmente porque muitos concordam de forma “velada” como o Brasil está sendo conduzido, muitos se tornaram apáticos, descrentes e quase insensíveis. Gostaria de dedicar essa crônica para meus irmãos- Gustavo Baily, Dudu Paranhos,Henrique Frickmann e alguém que chegará por aí. Uma nova vida provoca medo, mas o choro inocente, a ambição pelas mamadas e, principalmente, o exemplo dos pais pode mudar muita coisa. Eu hoje deixo o meu carinho para o meu primo Paulo José. Não gosto de intitular esse ser humano por sua profissão, mas pelos seus atos. Paulo ontem plantou uma esperança no meu coração e, diga-se de passagem, deve ser difícil para um promotor criminal tamanha sensibilidade e destreza humana. Eu gosto muito dele, assim como da Maria.

Kiko, com essa estória de ser amigo me tira da cama para correr as 6 da manhã. Vou acabar a crônica pois já escutei seu áudio “Marquinho, já estou aqui embaixo”. É bom ter vocês comigo; já outros bem distantes – muito distantes – como a educação e diplomacia do nosso chefe de sei lá o que… Hoje, após a corrida, Magrinho (irmão de Kiko), lembrou um pouco da nossa adolescência e da colorida casa da minha mãe. “Marquinho, a casa não tinha cada espaço de uma cor e era ladeada por blindex?”. Realmente era assim mesmo, mas uma casa de dois quartos muito humilde. Bety tinha uma mania horrível de dar tudo, mesmo o que não era dela. Recém chegada de uma viagem à trabalho trouxe-me uma camisa de uma espécie de coiote. Kiko, indubitavelmente, fez crescer suas pupilas e exclamou. “Tia, bacana a camisa”. Pronto. Ao chegar minha mãe já tinha lhe dado o meu presente. Kiko, de forma debochada, sempre reafirma que sou ruim no futebol. Eu me achava um monstro do meio campo, tipo Tostão. Que bom que existem amigos sinceros.

Eu gostaria de dedicar essa crônica para Maria Felinto e agradecer do fundo de coração aos meus amigos Paulo José e Gustavo Baily.