Paulo José Sally é Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Semana passada, durante o curso de minhas caminhadas matinais, aporeticamente fui atingido pelo tema da amizade. Ao contrário do que pensam alguns, o tema por óbvio, não se faz inédito na historia da humanidade. Determinadas gerações de pessoas, fielmente acreditam, sejam-lhe quais for seus idiomas, que o mundo se iniciou quando de seus imprescindíveis nascimentos. Magníficas criaturas.

De volta ao tema que me afligia, cheguei a uma determinada fonte: Aristóteles. Filósofo grego, que viveu durante o período clássico na Grécia antiga. No seu lattes, constante no interior do perfil LinkedIn, dizia-se que a criatura fora fundador da escola peripatética e do Liceu, além de ter sido aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Bom, constatei ter encontrado uma fonte razoável.

O cidadão de Estagira, apresenta o termo philia em uma de suas obras, denominada Ética a Nicômaco. O termo é traduzido geralmente como “amizade”, e às vezes também como “amor”.    A palavra philia, embora traduzida por amizade, pode ser entendida em sentido mais amplo, englobando assim todos os tipos afeições humanas, inclusive o amor.

Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

De outro giro, cabe assinalar que este amor-amizade (objeto de minha reflexão), não se confunde com o denominado amor platônico. Bingo! O Eros, de Platão, está ligado ao desejo, consequentemente ao que não se tem, e por alguma razão, faz falta. O autor Dos Diálogos, entende que amor é desejo, e este é o que não se tem. Tal premissa se contrapõe ao amor aristotélico, que está ligado a uma outra ideia. Philia. É o afeto pelo que se tem, traduzido de forma umbilical a ideia íntima de amizade – por todos aqueles que nos são caros. Afetos entre humanos em potencial, desde que haja muito apreço. Não o amor apaixonado ou enlouquecido.

A amizade assim, ganha a categoria de virtude, uma forma de excelência. A vida com amigos é superior a uma vida solitária. O bom então, é ter amigos. Nas conclusões de minha fonte, a virtude é uma excelência, e a amizade é uma virtude. A virtude para os gregos era uma condição para uma vida feliz. Logo uma vida com amizades é uma vida mais candidata a felicidade do que uma vida sem amizades. Assim sendo, é da natureza humana a relação necessária de amizade. Logo, sua falta, o desnatura. A propensão a fazer amigos é ínsito a própria natureza humana.

Passo então a refletir: Por quem sentimos philia? Entre parentes? Irmãos? É natural a philia dos pais para como os filhos? Tenho muitas dúvidas a respeito de tais indagações. O que nos leva a ter philia para com alguns, e não para com outros? Ainda na obra supramencionada, o filósofo estabelece uma tipologia para os fundamentos deste sentimento. O fundador do Liceu afirma que a amizade se origina fundada no prazer, na utilidade recíproca e na estima entre os seres humanos. A partir deste ponto passei a encontrar o primeiro vagalume nessa vasta escuridão. O termo estima, apresentou-se como um aforismo. Traduz-se na admiração fundada nas virtudes daqueles que me norteiam.

Não há ligações sanguíneas e nem personagens pré-estabelecidos. O que tenho, pelos poucos amigos que se afiguram em meu singelo cardápio, é estima. Admiro-os em suas virtudes, conhecendo seus vícios. Encanta-me suas companhias, sem que a ausência faça-me falta. Misturamo-nos em vida, para além da eternidade.