Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Quando chegamos num determinado momento de nossas vidas existem antigos obstáculos que passamos a ultrapassar em silêncio. Essa semana, com toda a simplicidade do mundo, adrento na Emergência de um grande hospital privado para ceder informações de um paciente que acompanho há tempos. Na bancada, um grupo de cinco ou seis meninos de branco, creio que médicos, com semblante mumificado. Tentei mostrar para os jovens, com idade um pouco maior que João e Bento, que estava disposto a ajudar. Nenhum olhar, nenhuma expressão, nenhum respeito. Um até me impressionou, pois trajava uma linda gravata e possuía cabelos bem tratados, mas mal-educado para burro. Como aqueles filhos que debocham de pais. Uma cena deprimente: não para mim (estou velho), mas para a nova medicina.

Realmente creio que o modelo do novo médico assusta.

“Jovens debruçados sobre lavabos de hospitais a procura, no Google, sobre o melhor antibiótico para um agente agressor específio (micróbio), sem antes sequer tocarem no foco do problema: um ser humano moribundo por alguma enfermidade”.

Sujeitos que são incapazes de levantar, sorrirem para familiares ou mesmo conversarem de forma sútil, como gostariam de ser tratados, se ali estivessem. São alguns anos como médico, outros como pesquisador, mas todos com sentimentos de amor ao outro. Que vergonha absurda. Como médico percebo de longe que a ética, a disciplina e tudo que nos fora passado desapareceu, de alguma forma, com essa nova garotada. Um completo retrocesso nas relações humanas atrelados à extenso analfabetismo político e clínico. Sem expressar a falta de respeito e a frieza com que tratam vidas.

E quando isso emerge o que prevalece é o preconcebido preconceito, o rebaixamento de todos os tipos de “bons” valores e o “burro” individualismo do “eu posso, eu faço e eu sei”. Precisamos recuperar a noção mínima de coletividade. A inconsequência é o pior vírus que existe na medicina. Um agente mais patogênico que a limitação médica; pois essa ainda têm solução com muito estudo.

Herdamos do século passado um extraordinário avanço da tecnologia biomédica que “acorrentou” nossas mentes e corações, a tal ponto que passamos a subestimar o raciocínio clínico, devotando desproporcional credibilidade à biotecnociência. Não podemos nos debruçar diante de lavados hospitais e buscar soluções para pacientes via Google. A genuína arte de ser médico está perdendo para a onipotência e certeza absoluta que são meninos indomáveis.

Impera a soberania da vontade pessoal, a individualização, o pseudo-poder hipocrático com a perda do sentido de solidariedade e amor.O final do texto eu creio que deveria ser uma reflexão para esses meninos.

“Qual é o sonho da minha vida médica? Qual legado desejo deixar nessa vida? O que estou aqui para construir, oferecer ou apoiar no campo médico? Na busca pelo sentido, a mudança positiva não acontece rapidamente, portanto, ainda que jovens, o tempo passa rápido, e cobra”.