Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Embora não me considere um expert nesses assuntos que envolvam Alienação Parental, gostaria de deixar algumas palavras, que possam tocar o coração dos pais. Com um mundo tão assolado por doenças, crimes, bandalhas e canalhices, será que ainda sobra tempo para isso? Sim. Sobra – e como sobra.

Essa semana recebi a ligação de um amigo desesperado, pois convidou suas duas filhas para um passeio de lancha em Angra dos Reis. Narrou-me que as pequenas adoraram a ideia de passear, conhecer um pouquinho do fundo do mar, do horizonte, sair algumas horas da terra plana e desvendar alguns mistérios da natureza.

A alegria parece ter durado pouco. Horas após suas filhas são visualizadas através de uma diminuta tela de celular aos prantos, dizendo-lhe, que não queriam ser vítimas de tubarões e colocadas à deriva em alto mar.

Não tinha muito o que falar para esse pai, já que conheço sua integridade, carinho, zelo, compaixão com suas pequenas, seria parcial nas minhas palavras. Convidei-o para passar uns minutos aqui em casa. Mostrei minhas fotos com João e Bento e também uma foto da minha mãe acima da cama deles. Afirmei com veemência: “Rapaz, a vida é muita rápida e infelizmente, quando Deus decide cessá-la não sabemos o desfecho”. Penso, particularmente, que esse negócio de Alienação Parental é uma tolice.

Dentre inúmeras menções públicas feitas a esta expressão, posso destacar a canção “É”, do cantor Gonzaguinha, que apresenta as seguintes frases no seu refrão: “É! A gente não tem cara de panaca; A gente não tem jeito de babaca (…)”.

Fiz-lhe um pedido ordenado. “Durma, descanse e amanhã reverta essa situação com o que o torna mais nobre dentro da nossa espécie, seu encéfalo. Transforme essa macabra história de tubarões e barcos à deriva, numa fábula sobre peixinhos palhaços, (aqueles da família do Nemo), e sem esquecer, diga-lhes, que ao seu lado existe Deus e dois anjinhos do bem. Modifique essa catarse moral, numa espécie de alimento emocional produtivo para a cabecinha das suas filhas”. É o melhor a fazer.

Queria dedicar essa crônica para a Joana e Benta; atualmente com oito e seis anos, respectivamente. Conheço o pai de vocês como ninguém, que embora possa ter defeitos como qualquer ser humano, a paixão deste homem por transcende qualquer coisa.

Quanto à pandemia gostaria de enaltecer a passagem do trecho “Inocentes do Leblon” de Chico Buarque de Holanda. Um País que produziu Cartola, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Cora Coralina e outros, hoje passa por grupo de mentecaptos e ignorantes que assumiram a Ministério da Cultura. Pobre e medíocre é um país que destrói essas lendas e coloca na pauta um ministro “trapalhão” – belas palavras de um amigo neurologista. Dedico essa crônica a Maria Felinto e Verinha; ambas foram babás de meus filhos- amo muito vocês.