Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Retornando de uma viagem cansativa, conversava com um amigo sobre o propósito de ser médico. Médicos com formação em saúde coletiva, apreciadores de artes, conhecedores de cultura e, indubitavelmente com formação clínica robusta, são diferenciados. Nessa profissão a compaixão, o zelo e a dignidade com os pacientes são fundamentais.

Considero-me meio que reconciliado com o eclesiástico, pois indigno-me com promessas de cura em troca de dízimos, procedimentos invasivos que interrogo a real necessidade e, principalmente, a falta de sensibilidade com os enfermos. Em toda a minha trajetória de médico “JAMAIS” aceitei dinheiro (no cerne da palavra) em troca de aulas para laboratórios, passagens para congressos e outros apetrechos que nos ofertam, que depois de negados por nossa essência, nos aproximam de Deus e promovem uma profunda e elegante noite de sonhos.

É emocionante pensar no engenhoso “trabalho” de uma vida dedicada à família, aos poucos amigos e aos pacientes. A vocação médica pode ser sentida por nós como uma plena inquietude na definição de um diagnóstico e tratamento adequado para casos vários. Infelizmente os cursos de Medicina não possuem tal capacidade de informar boas práticas médicas, pois faz parte de nosso DNA. O médico, quando possui essa virtude, se doa para a medicina e aceita de bom grado os fardos do dia a dia.

Em tempos de pandemia pude perceber com mais clareza essa dissociação que desmembra e suja o conceito de fazer o bem.  É impossível ser médico e não gostar de pessoas, emocionar-se com as estórias e repensar processo vida-morte.

Ultimamente analiso o que se passa com alguns secretários de saúde que superfaturam com o medo, o sofrimento, o “sufocamento” e a morte de pessoas. Durante o processo de “sufocamento” nosso corpo vai caindo no sono aos poucos, chegando, depois de um tempo, ao desmaio e, logo em seguida, morte. A perversidade é uma característica de alguns seres humanos, mas quando esses possuem formação médica o sentido torna-se pior – muito pior.

Penso nos meus filhos, na minha avó e nos meus pacientes quando leio noticias de investimentos de 30 milhões pagos em mil respiradores, esses que evitam o tal sufocamento. Deste só foram entregues para o nosso povo 52 aparelhos que pasmem, não eram adaptados para o tratamento de pacientes com COVID-19.

Atualmente três alunas (Janie, Jacqueline e Nicolle) que participam de minhas atividades médicas no consultório já recebem “sermões” carinhosos. Comento que os doentes não colocam somente a espera pela cura nas mãos do médico, mas também a sua esperança de vida.

Todos os dias sussurro no ouvido de João e Bento que os amo mais que todos os peixinhos do mar, pois sei o é amar. Tenho moral para estufar os poucos músculos de meu tronco e dizer que sou honesto. Para isso não existe certificado – existe um pedacinho de Deus dentro de nós. Uma semente que alerta para os princípios da amoralidade e nos direciona para o caminho oposto, o amor.

Dedico essa crônica para meu grande amigo – o Sonic – um cachorrinho muito querido por todos nós. Não fala, mas exala amor. Que Deus nos proteja de nós mesmos. “Não esqueçamos que somos atores sociais importantes; e devemos nos dedicar a mister hipocrático com denodo, sem esquecermos o que se falam apenas na formatura: “Conservarei imaculada minha vida e minha arte”.

Professor Carlos Henrique Melo Reis, desejo um feliz aniversário para o senhor e encurvo me diante de sua simplicidade, sabedoria médica e as belas palavras para o término da crônica.