Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

A dádiva tem de ser sem retorno, sem esforço, ainda que simbólico, de gratidão. Acho que quem é grato por algo, torna-se mais feliz. Não importa o doador ou o receptor. Ao tomar o café da manhã com meus filhos e posteriormente, aplanar para escrever essa crônica, não encontrava um tema de relevância. Eis que escuto vovó sussurrando com João e Bento: “Amores, vocês sabem o que é uma bússola? É um instrumento que serve para vocês usarem para localização…indicar um caminho, tipo norte e sul”. Perguntei aos meninos se eles já tinham ouvido falar de bússolas. A resposta foi direta: “Papai, óbvio que sim, você não se lembra da Dora Aventureira?”. Começamos a sorrir. Agora cesso a discussão para deixar-lhes com o que penso da vida.

Acredito que nossos olhos funcionam como bússolas anatômicas. É possível tirar muitas informações através das pupilas e dos músculos que participam dos movimentos. As pálpebras, consideradas acortinadas, mascaram ou desmascaram a alma. As sobrancelhas, ultimamente mascaradas por homens e mulheres através de procedimentos estéticos, um apetrecho importante da alma e das reações humanas devem seguir o trajeto do osso frontal, sendo mais robustas perto da região medial dos olhos e afuniladas na lateralidade do rosto. Cada dia é mais raro obter pistas nas sobrancelhas, pois a aplicação de toxina botulínica as deixa sem vida. Penso também nos elevadores das pálpebras, músculos tão divinos, que são castrados para eclodir um espectro de beleza artificial.

Considero que a ternura também está se perdendo com a modernidade. Antes funcionava como um hóspede agradável para nosso lobo frontal… uma espécie de sentimento que nos pede mais. No atual cenário, o Globo sofre um declínio de ternura com o reinado da ausência de pertinência. Convivemos com excesso de visceralidade, palavras difamatórias e descomedidas. O ser – humano, indubitavelmente, não merece tal destaque.

Creio que a única maneira de combatermos esse mal seria com pitadas literárias, mudanças de hábitos sociais e aquela enorme capacidade de olhar para os outros. Eu, particularmente, gosto muito mais de um bolo de fubá da casa de Tia Stela Cristina Eigenheer e Emílio – todos sobre um gramado e discutindo sobre o crescimento de nossos filhos. Cá entre nós, isso não tem preço. É o maior Jardim Botânico que a vida pode nos dar. Um remédio caseiro e eficiente.
Por mais que tenhamos trabalho, não podemos nos descuidar da vontade de fazer o bem, de nortear nossos pares. Façamos um belo penteado da nossa vida e também de outros.

Dedico essa crônica ao meu amigo Gabriel de Freitas, um grande neurologista, que hoje está mais próximo de minhas atitudes.

“Coloque a mão na chama de um fogão por um minuto
e parece que foi uma hora. Sente-se junto
daquela pessoa especial por uma hora,
e vai parecer que foi só um minuto.
Isso é relatividade”
                                         Albert Einsten