Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

A medicina, há bastante tempo, não é a mesma; sobram meios de pesquisa on-line, protocolos baseados em evidência científica, mas são escassos os atores de vocação. A gratidão por percebermos que nossos pacientes melhoraram e\ou obtiveram melhor qualidade de vida não tem preço. Agradecermos pelas nossas vidas e as deles nos parece uma espécie de luta diária, pois nos deixamos levar pela infinidade de percalços e desilusões que surgem diariamente.
Semana passada, Bento apareceu com umas perebas nas palmas e no quarto metatarso. Não entendo nada de Dermatologia, mas qualquer coisa que os meninos apresentam, corro para minha amiga Maria Pillar Del Biot. Os meninos a adoram. São abraços, beijos, olhares de gratidão e uma vontade que ainda desconhecem de dizer obrigado. Fico extremamente chateado, pois essa querida colega de profissão não nos permite acertar as consultas. Não só ela, mas muitos colegas como Claudio Morales e Raul Muniz. Temo até pela escrita dessa crônica, agora mesmo que receberei até café expresso.

Preocupado com essa situação caminhei com meus filhos até uma loja em Icaraí. Ao chegar disse ao Bento: “ Amigão, compre alguma coisa para sua médica!”. Em seguida a vendedora interroga os meninos. “O que vamos levar para essa amiga?”. A resposta foi imediata: “Qualquer coisa muito bonita”. A vendedora retruca: “Qual é a idade dela?”. João prontamente a descreve: “Ela é alta, meio nova, meio velhinha, acho que já é vovó… e bonita”.

Alguns médicos apresentam uma capacidade incrível de doação. Eduardo Morsch de Mello é um Pediatra que não sei descrever. A maneira como olha, ladeia os detalhes, escuta e semiologicamente realiza sua função é muito bonita. Sou um grande amigo dele; às vezes era chato como pai, mas aprendi o ditado “cada macaco no seu galho”. Conversamos sobre plantas exóticas do tipo Georg King. Tais plantas se comportam como alguns seres-humanos: vivem sobre outras plantas sem retirar nutrientes, apenas se apoiando. Alimentam-se pelas folhas e não as fagocitam. Dudu é um desses Médicos – possui luz própria. É um ser senciente, um homem que realmente pensa neste belo planeta – per si um enorme privilégio e aventura intelectual. Eu adoro sua postura de humildade.

Creio que como médico, encontro-me num estado de graça e gratidão. Tal estado não é usado para nada. Tudo para os meus olhos passou a ganhar uma espécie de nimbo, que não é imaginário; passa a ser oriundo do esplendor dos objetos e das pessoas. Penso que a verdade em nosso mundo é impalpável. Sigo meu caminho como Médico estudando muito e, sobremaneira, interrogando sempre minhas prescrições e consultas. Adquiri uma capacidade de pedir auxílios para meus Professores. Às vezes peço licença aos que defronte de mim esperam um diagnóstico e pergunto: “O senhor incomoda-se que eu tire uma dúvida com meu Professor?”. Na vida sempre teremos Professores, querendo ou não, isso é natural. Quem sofre com algumas de minhas dúvidas são Marcos RG de Freitas, Acary Bulle Oliveira, Jano Alves de Souza e Marco Antônio Araújo Leite. Quem acha que sabe tudo não sabe nem que é ignorante.

Gostaria de dedicar essa crônica ao meu médico, José Hermógenes Rocco Suassuna, além de todos que me nortearam para o “bom” caminho da prática médica, ou seja, aos professores das Universidades Federais UFF e UFRJ, atualmente achincalhadas pelo Governo. Um grande abraço para a minha tia emprestada, Helen Botelho. Um português fino e digno de uma grande educadora.