Marco Orsini é MD PhD Médico com Formação em Neurologia- UFF. Professor Titular da Universidade de Vassouras e UNIG. Professor Pesquisador da Pós-Graduação em Neurologia – UFF.

Ontem fui chamado de arrogante e narcisista. Fui perseverante e tentei não chorar, mas chorei. Não fora um choro mantido – algo interno. Às vezes eu acho que a nossa fé precisa estar em alta para que Deus possa resolver algo em seu devido tempo. Hoje, após 10 dias de uma virose, corri atrás de umas bolhas de sabão. Percebi como elas são lindas e dependentes da claridade e do escuro. Se as colocarmos no escuro a qualidade cai, mas em locais com raios do sol, as bolhas aumentam a nossa fé. Na infância, ao padecer de hepatite, quando criava bolhas de sabão, achava que as grandes iriam explodir a televisão e as janelas. Juntávamos detergente, fiações de arames e uns cacarecos. Não conte a ninguém, mas ontem descobri que as bolhas de sabão são muito mais bonitas que muitas pessoas.

Nosso Golden Retrevier (Thor), ao estimularmos com a expiração a multiplicação de bolhas, ficava excitado e tentava abocanha-las. Já o SONIC fugiu esbaforido com os olhos abertos e coração pulsante.

Não ligo de ser achincalhado por como sou e meu modo de agir frente à sociedade. Também sei das minhas limitações como médico, mais insucessos que sucesssos, mais perdas que ganhos, mais pontos negativos que positivos. O que não compreendo é alimentar algumas bolhas de sabão com um gesto genuíno de “venha aqui, filha, vou tentar fazer de você uma bolha bonita, cintilante e robusta”.

Depois que todo o meu esforço e, da forma como Hércules ficou conhecido, as bolhas (algumas poucas), ao invés de ganharem vida passam a tentar atingir o vítreo e a retina do criador. Sem qualquer tipo de piedade. De qualquer forma, deixe-nos para lá. Gritei com o Sonic com carinho: “agora você foge, seu sacana! Não irá ganhar seu quitute não, cachorro metido a brabo!”.

Por falar em bolhas de sabão, Bety Orsini (minha mãe), é uma mulher muito simples. Nunca a vi mal-tratando nem desdenhando de ninguém. Foi por isso que retornei ao choro. Será que do DNA dela me tornei uma bolha do mal, que apenas para alguns só escreve cautelosamente o nosso idioma? Eu, particularmente, acho que não; mas se alguém diz isso é um momento para parar e refletir. Não com as críticas, mas com o fazer novas bolhas de sabão. Enveredamos uma rua quase escura, eu, os meninos e os cachorros e novamente me apequenei. Me tornei quase um bicho de concha. Na “tabaqueira” de minha mão existia um pedaço de ciclete. Mas tive que colocá-lo na minha boca para mimetizar um desconforto nos olhos. Minha sorte estava no sabor do chiclete, pimenta da Finni. Nesse instante eu olhei para o céu e falei: “o senhor tem razão Deus. Me inclinei e pedi que me desse mais simplicidade, mesmo não acreditando que poderia me rebaixar mais. Se Sócrates hoje estivesse vivo, provavelmente ele seria um sem-teto. Quero me comparar à Sócrates? Óbvio que não. Só fechei, desde ontem, minha fábrica de produção de bolhas de sabão.

Nesse tempo que estou terminando a crônica, obviamente no banco do Campo de São Bento, meus filhos correm junto com a amigos para me mostrarem os “cards” da Copa do Mundo. Retiraram dos pacotes o Arrascaeta e o goleiro da Seleção. Todos aí sabem que sou Flamengo demais, mas não interessa. Também gosto do Botafogo e do América. Ao final da crônica recebe carinhosas ligações da Lara Brandão (a melhor neurorradiologista do Brasil), do meu médico (Mônaco) e de outros que compõem meu esqueleto psíquico para continuar como médico pesquisador; não mais como criador de formas e tonalidades de bolhas. Desculpem-me se alguns dias fui rude ou errei com vocês; às vezes acontece. Quanto ao João Márcio, um grande amigo e neurocirurgião, muitos confundem nossas brincadeiras e sarcasmo como algo agressivo. Enfim, João e Marcos de Freitas eram leitores assíduos e ferrenhos da minha mãe. Porquanto, não irei desapontá-los na produção e na confecção de oferta à nossa população. E quanto aos médicos? Creio que devam estudar, mas não os formo mais, graças a Deus. E segue um aviso para os meus amigos: em breve ficarei sem WhatsApp.